sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Conto do Elias

Elias era um jovem pastor de cabras de uma aldeia do interior. Seu pai era um antigo combatente que se aposentou por ter deixado ficar uma mão em Angola e quem sabe uma ou outra mulher 'cheia'. Sua mãe era uma daquelas mulheres que nunca saiu da sua aldeia.
Elias era aquele rapaz que, cada vez que via uma rapariga, o seu primeiro pensamento era: "Eih! Oh boa! Anda cá que eu afiambro-te já!"
Mas isto não lhe valia de nada, pois as únicas raparigas com quem ele teve algum tipo de relação foram a Sandra Marisa (lê-se 'Máriza' pois ela esteve muitos anos emigrada no Luxemburgo e, como é hábito dos emigrantes, começou a dizer que era 'Máriza') e Maria Antónia. E estas duas raparigas têm muito que se lhe diga. Sandra Marisa era conhecida na sua aldeia por 'Máriza Esfregona' pois, apesar de ter um corpo razoável, muitos homens da aldeia não tinham um bigode tão grande como o dela. Em relação a Maria Antónia, muitas pessoas têm a ideia que, quando ela nasceu, o médico a deixou cair no chão... de cara.
Para se desculpar destas relações menos conseguídas, Elias dizia sempre que estava bêbado.
Mas Elias, apesar de ser feliz com a sua vida, andava farto de ser um sedutor falhado e então decidiu acalmar.

Um certo dia, Elias ia participar numa excursão a Fátima. Acordou bem cedo, tomou o seu banho semanal, preparou as suas sandes de fígado e torresmos e o seu garrafão de tinto e foi ele apanhar o autocarro.
Já em Fátima, foi-lhes dado um período de tempo livre e como o Elias não levou nenhum amigo
(o Manco e o Patolas não quiseram ir) foi dar uma volta sozinho.
Foi nesse seu pequeno passeio que Elias encontrou uma mulata deslumbrante. Inacreditavelmente, ela também reparou nele e até meteu conversa.
Chamava-se Matilde e tinha vindo com a mãe à pouco tempo de Angola para estudar em Portugal.
Durante aquele curto espaço de tempo ficaram-se a conhecer um pouco.
Quando se iam a despedir, Elias entregou-lhe um papel com a sua morada e o seu número de telefone (ainda não tinha comprado um telemóvel, talvez por não saber trabalhar com ele) e disse-lhe para ela um dia aparecer em sua casa.

Passaram-se meses e ela não disse nada. Elias suspirava a toda a hora, pois Matilde deixou-o
mesmo apanhado.
Podia-se dizer que tinha sido "amor à primeira vista".

Mas um dia, estava Elias a sair do curral das ovelhas, quando vê chegar ao pé de casa dele um carro que não conhecia. Aproximou-se para ver quem era e, para seu espanto, vê Matilde a sair do carro.
Mesmo a cheirar a estrume, Elias correu para ela e abraçou-a. Mas, de repente, sai outra
pessoa do carro. Não. Não era o namorado. Era a mãe, a Genovéva. Matilde explicou que não a queria deixar sozinha em casa e que por isso tomou a liberdade de a levar.
Elias disse que não havia mal nenhum por ela ter levado a mãe mas, no fundo, ele preferia que ela não tivesse ido para poder ficar um pouco sozinho com Matilde.

Elias convidou-as para almoçar e elas aceitaram com um pouco de sacrifício, pois não queriam muito almoçar Iscas de porco.
Ele levou-as para dentro para as apresentar aos pais e, quando Genovéva viu o pai de Elias, ela paralizou. Toda a gente perguntou o que se passava mas ela disse que não era nada e que já estava bem.
Depois do almoço, Genovéva começou a dizer-lhe que se estava a sentir mal e que queria ir para casa. Matilde pediu desculpa a Elias por ter que se ir embora à pressa, mas preferia levar a mãe para casa.
Com essa pressa toda, Elias nem pediu o número de telefone nem a morada a Matilde.

Quando elas chegaram a casa, Genovéva disse a Matilde que não se estava a sentir mal e explicou-lhe porque é que queria ir embora tão depressa. A razão foi que Genovéva reconheceu o pai de Elias. Ele era um homem que ela tinha conhecido em Angola e que julgava que tinha morrido na guerra. Esse homem não era só pai de Elias. Era também pai de Matilde.
Com esta revelação, Matilde entrou em choque e resolveu não dizer nada a Elias. E, a partir desse dia, nunca mais lhe ligou nem o visitou.

Mas Elias não sabia essa parte dos acontecimentos. Até porque o seu pai não reconheceu Genovéva, isto porque já era uma da tarde e ele já estava um pouco bêbado.
E como Elias não sabia que Matilde era sua meia irmã, continuou sempre à espera que ela lhe ligasse ou o voltasse a visitar.

Elias esperou, esperou, esperou. Anos se passaram e ela nunca disse mais nada. E Elias nunca se conseguiu voltar a apaixonar por outra mulher.

E foi então que tomou uma decisão. Ia voltar a ser o Elias de antigamente. Aquele Elias que não podia ver um rabo de saias. Aquele Elias que não ligava nem a escolhas nem a padrões.
Aquele Elias feliz!



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Este foi o primeiro conto de caca.
Um conto inventado à pressão que mostra um drama amoroso vivido por um jovem do campo.

Tá mesmo de caca, mas penso que consigo usar melhor a minha estupidez e criar um conto ainda pior.

Até uma próxima!